Última semana: exposição Dolores Orange

GAL, em parceria com a Galeria de Arte do Centro Cultural Sesiminas, apresenta Frágil Equilíbrio, primeira exposição individual da artista pernambucana Dolores Orange, um conjunto de 45 trabalhos inéditos de três séries da artista: “Os Dias Estão Todos Ocupados” (2020 -2022), “Arranjos” (2021) e “Diário” (2021 - ).

“É a primeira vez que vejo boa parte dos meus trabalhos emoldurados e um do lado do outro. Isso de desenhar e pintar no papel, isso de não ter tanta parede em branco, isso de ter um ateliê em casa me deixa distante do trabalho como série. Guardadinhos nas gavetas ou armários, olho os desenhos vez ou outra, um aqui, outro ali. Olhar em série é coisa inédita, sinto que levei meus desenhos para passear” conta a artista. “São quase 50 trabalhos, a maioria deles só umas três pessoas até então haviam visto. E tem também o meu mais novo universo de investigação: a tinta a óleo” completa.


Sobre a exposição

Os Dias Estão Todos Ocupados, iniciada na pandemia, marca a entrada de Dolores no universo do desenho e da pintura. Durante o período em que enfrentou limitações circunstanciais de espaço físico, no contexto da crise da Covid-19, Dolores se dedicou a fazer desenhos quase diários a base de pastéis oleosos e aquareláveis.

Cada obra escolhida, dentre as produzidas, foi nomeada com o número do dia de isolamento provocado pela pandemia. Ao olhar para a série em perspectiva, analisando os títulos dos trabalhos e entendendo que há espaço de vários dias entre um e outro, percebe-se que, apesar do exercício diário, há um tempo de maturação envolvido na sua pesquisa.

Nem todo desenho encontra o ponto de equilíbrio, ainda que frágil, entre forma e harmonia de cores saturadas. Nem todo desenho encontra um lugar de densidade expressiva própria. Dolores parece aproximar o espectador das dúvidas do trabalho artístico e da postura necessária da artista - entre o trabalho e a espera. O que acontece no intervalo entre um desenho e outro? Como um desenho aparece? Dolores espera ou produz outro trabalho? Talvez sejam essas as perguntas de quem vê a série.

As séries Arranjos e Diário seguem a via aberta pela primeira: tentam encontrar uma espécie de harmonia e elegância entre as cores, de modo que, apesar da forte saturação e da proximidade com o desenho gráfico, o trabalho ache seu ponto de equilíbrio e expressividade.

O elemento novo são os materiais, que se diversificam. Na exposição Frágil Equilíbrio, será possível ver trabalhos em outras técnicas, como a tinta acrílica e a óleo, o mais novo universo de pesquisa da artista, assim como obras realizadas com lápis de cor. Nada é monocromático.

“À primeira vista, por isso, a galeria é uma pulsação vibrante. Talvez, no entanto, quando os olhos se habituarem à manifestação das cores, seja possível entender a aposta da artista na depuração do excesso” explica Laura Barbi, da GAL.


FRÁGIL EQUILÍBRIO – Trecho do texto crítico de Marina Romano

O olhar acompanha as combinações de tons pastéis, a predominância do fundo branco e, então, o contraste intenso das cores bem vivas e o fundo preto, que não se deixou completar. O Frágil Equilíbrio é experimentado como uma alegria que é breve, alicerçada em formas simples que se apoiam mutuamente e, assim, se sustentam - como os campos de cor que estão por um fio, por uma linha, de se derramarem.

Na série “Os Dias Estão Todos Ocupados”, as cores não se misturam e não saem dos limites, em um diálogo silencioso, também, com os limites das casas que abrigaram a artista durante o longo período de isolamento na pandemia. A sincronia parece se estender por um tempo: à medida que se dissolvem as barreiras na cidade, também se desfazem as margens rígidas das cores.

Dolores usa a quantidade de dias em que se dedicou àquele processo para dar nome aos trabalhos. Assim, nos revela uma fresta que permite fantasiar, feito pedestres curiosos diante de uma janela aberta, como se dava a vida naqueles dias. Através dos títulos-números, em ordenação cronológica, é possível encontrar os intervalos de tempo dedicados a explorar uma ou outra paleta; o aparecimento de uma e de outra forma, seus encontros, ausências, rearranjos. Todos ocupam progressivamente o campo do papel, deixando pelo caminho o vestígio do gesto evidente, de quem documenta com intensidade que esteve ali – viva como a paleta – por todos aqueles dias.

Os desenhos e pinturas que aparecem aqui, como fatura, compõem um conjunto íntegro do exercício da prática, não hierarquizado por materiais ou processos. Dar o nome de “estudo” à fatia da produção que surge de intenções mais experimentais e livres é parte da construção estruturalista que aprendemos ainda muito jovens. Observando o papel intrínseco da contingência no trabalho com pastel e tinta sobre papel, semelhante ao bricoleur de Lévi-Strauss, Dolores encontra um material novo; o que estava disponível, para construir novos sentidos, para se surpreender como criança.


Sobre Dolores Orange (1987, RECIFEPE)

Vive e trabalha em Belo Horizonte. Suas investigações artísticas se concentram na pintura, no desenho, na fotografia e na vídeo performance.

É graduada em Letras pela UFPE e mestre em Teoria da Literatura pela UFMG. Desde 2018, estuda artes plásticas na escola Guignard – UEMG. Foi premiada na Mostra Interna da Escola Guignard, nas categorias Fotografia e Pintura. Foi artista residente no Arrudas Pesquisa em Arte, em Belo Horizonte, e no Ateliê Xacra, na Serra da Moeda, entre outubro e dezembro de 2021.


Sobre a GAL

GAL é uma galeria de arte que desenvolve projetos independentes voltados à pesquisa e circulação da arte contemporânea brasileira. Disponibilizamos um acervo de obras selecionadas de artistas brasileiros contemporâneos para venda online, em um modelo transparente que resulta no financiamento de nossas ações.

Propomos um modelo alternativo ao praticado por galerias e instituições, buscando outros contextos para artistas mostrarem suas produções junto ao público e colecionadores diversos.

Um projeto desterritorializado que realiza exposições em espaços em desuso ou ocupa temporariamente espaços culturais tradicionais e/ou privados.

Nossa proximidade com estes artistas, de trajetórias e interesses diversos, somada a nossa rede de colaboração que reúne pesquisadores, críticos, curadores, além de parceiros de diferentes áreas de atuação, como arquitetura, cinema e publicação gráfica é o garante este modelo único e destoante.

GAL surgiu em 2017 em Belo Horizonte e suas ações têm alcance global.


Serviço

FRÁGIL EQUILÍBRIO

Dolores Orange EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL

Período Expositivo: 27/5 a 25/7/2022

GALERIA DE ARTE DO CENTRO CULTURAL SESIMINAS R. Padre Marinho, 60 - Santa Efigênia

Belo Horizonte, MG, Brasil

Terça - Domingo, 9-19h

crédito: GAL/ divulgação 

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